A multinacional irlandesa CRH plc, uma das líderes globais na produção de materiais de construção, colocou à venda o negócio de cimento que opera no Brasil, nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os ativos - três fábricas e uma moagem - foram adquiridos no início de 2015 da francesa Lafarge e da suíça Holcim, dentro do processo de fusão das duas gigantes desse setor.

Segundo apurou o Valor com fontes da indústria cimenteira no Brasil, a CRH, sediada em Dublin e listada na bolsa local e em Londres, na LSE, contratou o Citi como adviser para buscar compradores para os ativos brasileiros. O banco já está em contato com potenciais interessados, tanto do Brasil quanto do exterior.

Procurada, via e-mail, a companhia irlandesa informou, por meio de um porta-voz: “A CRH não comenta rumores ou especulações de mercado”.

A aquisição das unidades fabris no Brasil - que marcaram a entrada do grupo irlandês no marcado local - fizeram parte de uma compra global de ativos de Lafarge e Holcim pela CRH, no valor total de € 6,5 bilhões (US$ 7,3 bilhões). A venda desses ativos, que envolveu Europa, Canadá, Brasil e Filipinas, foram remédios oferecidos para permitir a aprovação da fusão dos dois grupos pelas autoridades antitruste, principalmente da União Europeia.

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Nesse pacote, a CRH herdou no Brasil uma fábrica e uma moagem em Arcos, um fábrica em Matozinhos, uma moagem em Santa Luzia, todas em Minas Gerais, e uma fábrica em Cantagalo (RJ). As operações dispunham, na época, de capacidade para fabricar 3,6 milhões de toneladas de cimento por ano. Atualmente, segundo a própria CRH, o volume é de 3 milhões de toneladas.

A operação brasileira é pequena dentro do grupo, que faturou € 26,8 bilhões no ano passado. A CRH Brasil é gerida por uma holding americana. Representou 1% da receita da divisão Americas de materiais, que foi de € 8,95 bilhões em 2018. Ou seja, um faturamento na faixa de R$ 380 milhões no último exercício.

A CRH, conforme apresentações feitas a investidores ao longo deste ano, decidiu fazer uma redefinição de seu portfólio de ativos no mundo. Ao longo de nove meses já se desfez de € 2 bilhões, ao mesmo tempo que aquisições, pontuais e estratégicas, ficaram na casa de € 700 milhões. “A meta é maior crescimento com retorno e geração de caixa, cristalizando retorno aos acionistas”, destacou, reforçando que o foco é rentabilidade com elevados múltiplos

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A fabricante de materiais de construção chegou ao Brasil no momento em que o mercado entrava em crise, que se aprofundou até o fim de 2018 e perdurou até o primeiro semestre deste ano. O consumo, com a crise econômica do país, caiu 27% no período, atingindo fortemente os resultados financeiros das cimenteiras instaladas no país.

As principais fábricas da CRH estão localizadas na região metropolitana de Belo Horizonte, área em que há uma competição por mercado acirrada. Nessa região - raio de até 150 km - disputam vendas, com táticas de preços agressivas, ao menos oito empresas. É conhecida como a “Faixa de Gaza”, do setor no país.

Em comentário sobre os resultados globais no relatório anual de 2018, a CRH afirmou que no Brasil persistiam muitas incertezas, principalmente por causa das eleições de novo presidente, a greve de caminhoneiros que ocorreu em maio daquele ano e que o mercado da construção imobiliária ainda se mostrava fraco. Mas que a subsidiária local tinha fechado o ano com vendas estáveis e os preços estavam se recuperando.

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Como reflexo da depressão no mercado local de cimento, três empresas brasileiras - Apodi, Brennand e Ciplan - buscaram compradores e/ou sócios para fortalecer sua estrutura de capital. Investiram nessas fabricantes os grupos Titan (grego), Buzzi Unicem (italiano) e Vicat (francês). A expectativa no setor é que ainda há espaço para mais consolidação: mesmo com a recuperação do mercado - previsão de alta de 3,6% neste ano -, há uma ociosidade forte e algumas empresas não teriam fôlego financeiro para uma retomada firme a partir de 2020.

Com operações em 31 países, o grupo CRH foi formado no começo dos anos 1970, com a fusão de duas companhias irlandesas: Cement Ltd. e a Roadstone Ltd. Daí originou-se a Cement Roadstone Holdings (CRH). Com a aquisição dos ativos de Lafarge e Holcim, tornou-se a terceira mundial em materiais de construção. É líder na América do Norte nesse mercado. A companhia emprega quase 80 mil pessoas e têm mais de 3,1 mil unidade de produção no mundo.

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