Uma semana após o Decreto Municipal 5.532 de 19 de Março de 2020, que suspendeu alvarás de empresas e comércios de diversos seguimentos, vários comerciantes relatam a preocupação, principalmente com a manutenção de empregos e com o futuro.
Ruas sem gente, portas fechadas e muitas incertezas.
Na manhã e tarde deste sábado (28) conversamos via telefone, com cerca de 15 comerciantes, empresários e profissionais autônomos sobre como foi essa semana em que o comércio de Arcos praticamente parou, por causa da Quarentena, motivada pelo enfrentamento à Covid-19.
Nos últimos dias empresas que não tinham o serviço de tele-entregas, adotaram o 'sistema delivery', buscando minimizar os prejuízos, porém as vendas foram 'tímidas' e não cobriram os gastos dessa semana.
►'Estou com a mercadoria parada, perdendo validade' - Conversamos com um comerciante de 36 anos, do ramo de alimentação para animais, que nos disse: ''Mesmo disponibilizando o sistema de entregas, o prejuízo está sendo grande, pois como se trata de venda com valores, muitas vezes abaixo de R$20,00, não temos como não repassar parte desse valor para o cliente, encarecendo o produto e a maioria das pessoas está comprando somente o essencial... estou com a mercadoria parada, perdendo validade e ainda nem paguei ao fornecedor''.
►'As contas não param' - O proprietário de uma Loja de roupas, 59 anos, disse a nossa redação que: ''mesmo possuindo somente um funcionário, as contas não param, tenho ainda que pagar contador, água, luz, tem o meu valor mensal, que é praticamente um salário, dinheiro em estoque parado, sem contar que as roupas, de uma estação para a outra na maioria das vezes ficam ultrapassadas e literalmente fora de moda... .''
►'Estou pagando para trabalhar' - Segundo um empresário do ramo de confecções, 54 anos, ''estamos todos correndo o risco de fechar, pois a mercadoria que já está pronta, eu tive o gasto para produzir e agora não posso entregar, pois não vou receber. Com isso não vou conseguir pagar o fornecedor que também corre o risco de fechar.... meus 14 funcionários que estão parados, estão cientes, que dia 06 talvez, não conseguirei pagar e se pagar será parcelado em várias vezes...''
►'70% de Perda' - Um empresário do ramo de restaurante, 46 anos, nos disse que com as portas fechadas e mesmo atendendo com delivery de marmitas, a queda no negócio chega a 70%... ''para se ter uma ideia,óleo, arroz e feijão subiram de preço, até mesmo o detergente encareceu e hoje está praticamente impossível sustentar o negócio. Nesse caminho, o bruto que vendemos não supre nem 80% da nossa folha de pagamento dos quase 24 funcionários.... num domingo normal, passavam entre 300 a 400 pessoas pelo restaurante e agora zero.... Estamos trabalhando reduzidos, somente de dia... e mesmo com o delivery não estamos vendendo, as pessoas estão com medo de comprar e também algumas estão sem dinheiro... É uma reação em cadeia... Coloquei alguns funcionários de férias e o quinto dia útil já está ai... Já avisei que não terei como pagar integralmente... nesse caminho que estamos, vou ter de apelar para os bancos, ou mesmo fechar.'
►'Precisamos do caminho do meio nesse momento' - Um proprietário de duas empresas, de 33 anos, nos disse que: "essa foi uma semana difícil... nós temos 16 colaboradores que dependem da gente diretamente e com toda certeza o impacto será e está sendo expressivo para todos nós... precisamos do caminho do meio nesse momento... todos os lados tem de ser ouvidos e precisamos que haja uma volta gradual com responsabilidade, pois temos muitas incertezas nesse momento... e não sabemos até quando poderemos aguentar...Precisamos entender que hoje a tomada de decisão e o seu consequente tempo de aplicação muda constantemente, por isso a necessidade de que qualquer decisão seja reavaliada constantemente, pois o cenário muda muito rápido...''
►'Trabalhando com restrição eu já teria pago minhas contas' - Um prestador de serviços de manutenção, 53 anos, que tem uma empresa MEI, disse a nossa equipe que: ''Fiquei uma semana sem trabalhar, não tive renda nenhuma... prestação do carro e boletos vencidos... e os gastos não param... e depois quem vai me ajudar a pagar? Se eu estivesse trabalhado essa semana, pelo menos com restrição, as contas já estariam pagas...Já que eu não recebi nada, não vou conseguir pagar ninguém... e como fica depois? Preciso comprar peças, não tem como... preciso entregar algum serviço e não posso entregar, pois corro o risco de não receber... o pessoal não tem dinheiro por que também não estão trabalhando...Todo mundo precisa do dinheiro de todo mundo, se o dinheiro não circular uma hora vamos ir para o caos... é preciso que volte gradualmente aos trabalhos...''
►'As despesas operacionais do escritório não param' - ''Um profissional autônomo, de 55 anos nos disse que: "essa semana estou com o escritório fechado trabalhando em casa... os trabalhos em andamento os clientes já pediram para dar uma pausa... clientes que tinham negociações bem adiantadas, inclusive com financiamento encaminhado, pediram para suspender... algumas pessoas que agendaram para fazer visitas a imóveis, estão com receio de desemprego e não vão mais... vários projetos estão finalizados e não consigo entregar... já liguei para o cliente dizendo que está pronto e não vieram buscar... e as despesas operacionais do escritório não param, aluguel, água, luz, internet...sem contar outras contas que vão chegar..."
►'Estamos com as entregas abaixo do normal' - Um comerciante, de 39 anos, cuja empresa que tem o foco principal nas entregas 'delivery', também nos relatou que essa semana, deu um pico de vendas e foi caindo gradativamente, segundo ele: ''nós chegamos a fazer algumas entregas, porém bem abaixo do normal, só para exemplificar nessa quinta (26) e sexta (27), os pedidos tradicionais caíram muito e nos assustou... a gente fica com medo de que essa queda se acentue nos próximos dias e impacte ainda mais... a única certeza que temos é o prejuízo...''.
►'Aumento no crediário e incerteza de recebimentos' - Um proprietário de farmácia, de 34 anos, que emprega cerca de 08 colaboradores em Arcos, nos relatou que nessa última semana: '' a venda de itens de perfumaria caiu muito e as vendas no crediário (a prazo) aumentaram, gerando incertezas se vamos receber daqui 30 dias... Alguns produtos estou tendo dificuldade de comprar e tenho buscado outras distribuidoras, porém, mesmo as distribuidoras agora só vendem para quem já tinha cadastro, até eles (distribuidoras) estão restringindo, creio que por medo de não receber...Tenho notado também muita tensão dos funcionários com toda essa situação...todos estamos no mesmo barco..."
Incertezas
Algumas outras pessoas ligadas a vários ramos de atuação na cidade de Arcos, também nos relataram as mesmas situações, onde ''as contas fixas estão chegando e não há uma esperança, de onde tirar o dinheiro para quitar''.
''Com isso, vai se criando uma 'bola e neve' e todos nós vamos ser impactados direta ou indiretamente''. Nos falou uma comerciantes de 36 anos...
Outro comerciante 52 anos, nos relatou que: ''não precisamos ficar indiferentes ao que está acontecendo, sabemos de que temos o problema da Covid-19, porém se não haver uma abertura do comércio, de uma forma ordenada e gradual nos próximos dias, com toda certeza não teremos como honrar com os nossos compromissos e teremos infelizmente de fechar, por que esta insustentável...''
"Trabalho como pintor, sou autônomo, terminei a pintura de uma casa na quarta-feira (25) e até hoje não trabalhei mais... as pinturas que estavam previstas para semana que vem e na outra, já foram desmarcadas...o pessoal parece estar com medo e agora o que vou fazer? A boca não para e nem as contas..." Pintor autônomo, 34 anos.
Nas entrevistas que fizemos via telefone podemos resumir os seguintes pontos em comum de pensamento, de todos os entrevistados, que mostraram preocupação tanto em relação à Covid-19 (Coronavírus), tanto na questão financeira:
►Todos estão cientes de que precisa haver o combate ao Coronavírus;
►O Coronavírus trata-se de um problema de todos;
►Todos acham que há a necessidade de flexibilizar o decreto municipal, a fim de que haja o retorno gradual e responsável (com restrições) as atividades;
►Que cada comerciante e empregador, tome as devidas medidas de restrição de fluxo de clientes, disponibilizando medidas protetivas como álcool em gel e orientação sobre a distância mínima entre os clientes, em caso de filas.
Segundo alguns entrevistados:
►O empregador não resistirá há mais dias de lojas e comércios fechados, correndo o risco de haver demissões e até extinção de empresas;
►O sistema 'delivery' para muitas empresas não funcionou e vários acumulam muitos prejuízos nos últimos dias;
►Alguns trabalhadores informais e prestadores de serviços estão parados sem trabalhar e com receio do amanhã;
►Vários empregadores estão incertos quanto ao futuro de seus negócios;
►Segundo alguns, o comércio em geral vai demorar meses para se recuperar, principalmente aqueles que fazem a venda na modalidade 'notinha de balcão', pois estão com receio de não receber.
Nesta segunda-feira (30) haverá mais uma reunião do Comitê de Enfrentamento e Emergência em Saúde do COVID-19 na cidade de Arcos.
A esperança de muitos comerciantes, empresários, trabalhadores autônomos e pessoas que foram direta e indiretamente impactados pela 'Crise do Coronavírus' é de que haja uma flexibilização do Decreto Municipal e uma volta gradual, que seja talvez em meio período, porém seguindo o que foi feito em outras cidades onde, vários setores foram liberados para trabalhar com 50% de sua capacidade, com adequação nos atendimentos para evitar aglomeração de pessoas, disponibilização de álcool em gel para os colaboradores e clientes, distanciamento mínimo de 02 metros entre pessoas e seguindo integralmente as práticas que já vem sendo adotadas pelos comerciantes que estão trabalhando.
Nota da Redação
Estamos vivendo uma crise nunca antes vivida pela nossa geração e que vem impactando todos, mesmo aqueles que tem sua renda fixa, estão sendo afetados pela alta nos valores das mercadorias.
É preciso que tenhamos esperança e fé, além da certeza de que essa crise vai passar, como já passou várias outras no passado.
É preciso bom senso e que haja uma ampla discussão, a fim de buscar uma saída para este momento delicado.
Temos um grave problema e não podemos criar outros nesse momento.
As decisões, sejam elas quais forem, impactarão a todos nós de uma maneira ou de outra, por isso a necessidade de tentar sermos o mais acertivos possível.
Que nossos líderes tenham serenidade e empatia nesse momento em que todos nós estamos passando.
A todos que estão sendo afetados, que não percamos as esperanças de um amanhã melhor.
A crise passará e com toda certeza, sairemos ainda mais FORTES.
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