Na casa da minha avó materna, entre os pastos e os animais da roça, andávamos meus primos e eu sempre descalços, explorando — como se estivéssemos perdidos em uma selva gigante — os pés de fruta, os ninhos de pássaros e o rio raso que corria, em curvas, para um destino incerto.

Nessas andanças exploratórias, não raramente, voltávamos – heróis frágeis que éramos – para o colo de nossas mães sempre a reclamar de alguma desventura que cruzara nosso caminho: uma galinha choca que nos bicava o calcanhar, a cerca do arame farpado que arranhava nosso couro cabeludo ou o olhar, mudo e profundo de uma vaca, que nos fazia correr em gritaria.

Certa vez, em uma dessas aventuras infantis despretensiosas, pisei em um espinho: pequenino, mas pontiagudo o suficiente para entrar na planta do pé e me dar o alarme da dor. Eu devia ter uns cinco ou seis anos, idade suficiente para expor o meu lado dramático, e me fazer sair do meio das taiobas - manca e em lágrimas - gritando pela minha mãe, que logo apareceu!

Diante dela, expus toda a minha tragédia: um espinho “enorme” estava no meu pé! A mulher que eu chamava de mãe, não tinha mais que 24 anos, e com a sua jovialidade e doçura me pediu que sentasse para que ela pudesse vê-lo. Olhando para mim, com seus olhos pequenos e castanhos, tais como são os meus agora adulta, me contou sorrindo que tinha uma mágica nas mãos enquanto me mostrava o punho fechado.

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_Aqui dentro — ela dizia — a mágica faz os espinhos saírem sem dor!

Até hoje, quando me recordo, lembro-me da fé inquestionável que tive nas palavras da minha mãe e do primeiro pensamento que me veio à cabeça:

_Nossa! Minha mãe é mágica!

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E deixei, assim, que ela “encantasse” meu pé com a sua magia humana e maternal: segurou meu calcanhar com uma mão e com a outra se aproximou, devagarinho, puxando com a ponta dos dedos o espinho intrometido.

Ele, claro, saiu sem uma gota de dor e o meu sorriso de satisfação dispensou as palavras. Botei os pequenos pés no chão, conferindo como tudo já estava em ordem e corri para qualquer lugar para brincar novamente. Não fiz alardes sobre a minha mãe e não me lembro de ter contado a nenhum primo o ocorrido inusitado. Afinal, qual era a surpresa?!

Na minha sabedoria infantil, não eram necessários mais que dois minutos para que a constatação óbvia fosse aceita: a mulher de cabelos pretos e andar de passarinha era a minha mãe mágica e especial!

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Anos se passaram e essa lembrança me vem à cabeça sempre quando eu penso no significado da palavra mãe. Mãe é mulher que cuida com amor, mãe é raiz que sustenta nosso ser durante as tempestades, é quem nos dá a vida, e mesmo quando pelas intempéries do caminho tenha que nos deixar, mãe é memória onde repousamos nosso coração cansado.

Mãe que tira espinho sem doer, mãe que abraça sem fazer pergunta, mãe que manda levar casaco, mãe que faz bolo de cenoura, mãe que não cozinha, mas chama para conversar, mãe que, em silêncio, nos ensina a amar...