Retumbou nas pedreiras do Corumbá O grito que José Luiz ( do Corumbá) deu no final da reunião da última quinta-feira (27) “Eu sou Ambrósio”.

A reunião com mais de 20 pessoas serviu para formar a comissão provisória que irá propagar, divulgar e procurar o reconhecimento que ali já foi o abrigo do ‘Quilombo do Ambrósio’.

A comissão ficou assim formada por aclamação:

Presidente: João Cordeiro

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Secretaria: Flávia

Tesoureiro: Geraldinho

A história, como a de ‘Rei Ambrósio’, não e contada com registros, por isso é reivindicada por muitos, e muito romanceada.

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Podemos assim dizer, cada um tem seus dogmas, suas histórias e suas paixões.

O conhecimento das ascendências dos negros no Brasil é só por testemunhas orais dos descendentes, porque houve o ‘silenciamento’ da história oficial.

O quilombo é um espaço geográfico, vivido e imaginado, pois a realidade é opaca, existem sinais, indícios que permitem decifra-la.

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Deve-se considerar também que a história se reescreve a cada geração.

A partir da constituição de 88, e posteriormente em 2010, com Estatuto da Igualdade Racial, o quilombo passa ter uma natureza jurídica reconhecida, como forma de reparação dos séculos de usurpação do direito dos quilombolas de ocupar os espaços nos quais se dão seus modos de criar fazer e viver.

A toponímia regional e seus africanismos são riquíssima, exemplos não nos faltam: Loanda, Cazanga, Bocaina, Bocaininha (sede do quilombo), Corumbá, Boca da mata, Taboca, Pindaíba, Serra do Ambrósio, Quilombo, Morro do quilombo, etc.

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Segundo Geraldo Ló, um dos idealizadores: - “Ficou resolvido que lutaremos por esta causa tão importante, maior que o Quilombo de Zumbi, até conseguirmos o reconhecimento das pessoas e autoridades e assim, levantarmos um monumento ao Rei Ambrósio”

Nota: Em 1995, o Livro ‘Quilombo do Campo Grande – A História de Minas, Roubada do Povo” do advogado e historiador Tarcisio José Martins, trouxe à tona essa real história depois de muitos estudos, onde mostra que o ‘Quilombo de Campo Grande’ ao qual Rei Ambrósio pertencia, fora maior que o famoso ‘Quilombo de Zumbi dos Palmares’.

►Segue um trecho de umas das matérias do site MG Quilombo, assinada por Tarcísio José Martins:

MAPA DA CONFEDERAÇÃO QUILOMBOLA DO CAMPO GRANDE

Confira aqui o mapa da maior confederação quilombola que já existiu, o Quilombo do Campo Grande, suas diversas unidades e áreas ocupadas. Palmares era composto de 9 vilas ou quilombos. O Campo Grande chegou a ser composto de cerca de 27 vilas ou quilombos, abrangendo território também muito maior.

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Durante mais de cinco anos andamos a procura do citado mapa, sem nada conseguir. Finalmente, através do Dr. Hélio Gravatá, inesquecível funcionário do APM[1], em Belo Horizonte, obtivemos uma cópia xérox do citado mapa contido numa das revistas do APM. A cópia, porém, era muito pequena e pouco nítida. O Dr. Gravatá, grande conhecedor da pesquisa histórica, informou-nos de que o documento original, integrante da Coleção Almeida Prado, poderia ser encontrado na Universidade de São Paulo, junto ao Instituto de Estudos Brasileiros-IEB.

Localizamos o mapa, conforme nos fora informado pelo Dr. Gravatá, sem catalogação específica e em meio a inúmeros outros mapas e desenhos. Mandamos fotografá-lo e o reproduzimos em tamanho natural de 60cm-X-40cm, isto, em 1992 – como se pode ver na imagem acima ampliada com um clique. 

Constatamos que todos os historiadores que, até então, estudaram e examinaram esse mapa não se aperceberam de que o fizeram com o mapa de cabeça para baixo, visto ter sido legendado com o seu norte invertido, como se viu acima. 

O que de mais notável se verifica nesse mapa, como se vê acima, é a existência de dois núcleos com o nome de “Ambrósio”, quais sejam, a Primeira Povoação do Ambrósio (à esquerda), em Cristais, e o Quilombo do Ambrósio II (à direita), nas nascentes de um afluente do Quebra-Anzol, no então Triângulo Goiano, hoje, entre Ibiá e Campos Altos.

Analisando a petição em que o neto de Bartolomeu Bueno do Prado, em 1800, narrou e provou – com depoimentos de testemunhas – a saga de seus antepassados, incluindo Bartolomeu Bueno do Prado, confirma-se a informação de Francisco de Assis Carvalho Franco sobre a existência de um mapa. No entanto, o seu mapa deve ser outro, visto que sua petição e testemunhas omitiram os quilombos São Gonçalo, Ajudá, Goiabeiras, Chapéu e Cala-Boca, entre outros, além da utilização de nomes diferentes para alguns quilombos, a exemplo de “Quilombo Cabeceiras do Rio Pardo” em lugar de Quilombo do Careca[2]. Mas, no geral, esse processo judicial confirmou em mais de 90% o Mapa do Capitão Antônio Francisco França. Realmente, houve dois mapas topográficos[3].

O “Mapa de Todo o Campo Grande, Tanto da Parte da Conquista, que Parte com a Campanha do Rio Verde, e São Paulo, como de Pihui, Cabeceiras do Rio de São Francisco e Goiases” foi feito ou mandado fazer pelo capitão Antônio Francisco França por ordem dos governadores Freire de Andrade e, após a morte de Gomes Freire, pelo governador Luiz Diogo a quem deve ter sido entregue pelo capitão França, como se depreende do que está escrito no seu texto-orelha.

O texto-orelha do mapa do capitão França, escrito após a morte de Gomes Freire (1763), teve como fonte as atas de 2 de outubro e 13 de novembro de 1760 da Guardamoria de Carrancas[4], escritas pelo escrivão do guarda-mor Diogo Bueno da Fonseca, após o ataque que fizeram ao Quilombo do Cascalho e escavações em busca de ouro em ambas as margens do rio Grande região da serra das Esperanças, Primeira Povoação do Ambrósio, Sapucaí, Três Pontas, Rio Verde e Sertões do Jacuí.

O mapa dá a localização dos quilombos atacados em 1758, 1759 e 1760. Oferece, ainda, a localização de quilombos atacados em 1743, a exemplo dos quilombos da região de Três Pontas, e dos quilombos atacados em 1746, como a Primeira Povoação do Ambrósio, localizado em Cristais-MG.

Manoel de Souza Portugal que, sem dúvida participou do ataque a este Primeiro Quilombo do Ambrósio em 1746, teria repassado sua localização ao próprio capitão França, como sugere “um saco de aniagem com multidão de papéis pertencentes à herança do defunto sargento-mor Manoel de Souza Portugal” encontrados no Paraopeba “entre os bens do defunto capitão Antônio Francisco França” em 14 de dezembro de 1768, os quais foram descartados porque NÃO eram “obrigação alguma de dívida que se devesse ao dito defunto sargento-mor”, podendo ser mapas, roteiros e riscos a confirmar a autoria do Mapa pelo capitão Antônio Francisco França[5]. França falecera no ano de 1767, conforme seu inventário arquivado no Arquivo Judiciário de Ouro Preto-MG. 

Esse mapa, em conjunto com a carta de 1793 da Câmara de Tamanduá (expurgada de suas mentiras), com o mapa-roteiro da viagem de Luiz Diogo Lobo da Silva em 1764 e com o roteiro da expedição de 1769 de Inácio Correia Pamplona (também expurgado de suas mentiras), constitui um guia seguro para se estudar os episódios que cercaram as guerras ao Campo Grande e outros acontecimentos ligados ao sistema tributário da capitação que, apesar de extinto em 1751, continuou a gerar consequências anos afora. Veja o resumo do estudo feito por Nícolas Barbosa para o MGQUILOMBO.

Além dos documentos acima citados, o Mapa do Campo Grande é confirmado direta ou indiretamente por dezenas de outras fontes primárias e secundárias. 

Saiba mais em www.mgquilombo.com.br