O primeiro passo era a árvore! Enquanto não encontrava um galho ideal, assim meio redondo, cheio de galhinhos não ficava satisfeita. Bom era galho de jabuticabeira, mas de goiabeira também servia . Saíamos a procura pelo pasto próximo de casa, eu e meu pai ou minha mãe. Achado o galho, era hora de começar os trabalhos.
Cobrir com algodão cada espaço dele, para ficar parecendo neve! Em seguida, arrumávamos uma lata para colocar areia e firmar o galho. Cobríamos a lata com papel de presente usado e às vezes até amassado, mas isso era o menos importante. O mais difícil era pendurar aquelas bolinhas que só de olhar se quebravam, só o que não se quebrava junto com elas era o encanto do momento! Quantas bolinhas desperdiçadas!
Seus caquinhos serviam para cobrir a areia na lata! Pronto! Ela estava perfeita! Colocada em um canto, a árvore ficava ali, esperando a vinda daquele que colocaria um presente na noite mais esperada do ano, em minha inocência de criança.
Até a tão esperada noite, muitas outras coisas aconteciam... os pedidos, a espera, o cardápio do dia , a cesta de chocolate trazida pelo papai da empresa, cesta esta que quando chegava ,minha mãe repartia com todos... esse para fulano, esse para ciclano, esse para sua avó, não me lembro de ela tirar o dela, só para os outros, assim era minha mãe.
No cardápio, não podia faltar o frango ao molho e tutu com ovos preparados por ela. Hum! Desculpem, deu água na boca e por um instante senti aquele gostinho gostoso de novo...
A macarronada feita pela minha avó, com aquele macarrão do pacote de papel azul, o mais grosso que havia no armazém da esquina, também era indispensável. Isso era para o almoço do dia, porque a noite era reservada para a missa do galo que era celebrada a meia noite e a espera pelo presente que seria deixado na árvore de galhos com algodão.
Nos dias que antecediam o Natal, rezávamos a noveninha! Cada dia rezava-se na casa de uma criança.
Quem carregava o menino Jesus na manjedoura pela rua era a criança dona da casa na qual a "rezinha aconteceria". Ele ficava lá até o próximo encontro. Íamos pela rua em duas filas indiana, menino Jesus ao centro embalados pelo tilintar do sino entoando cantigas de Natal.
No entanto, para nós crianças, o melhor da noveninha eram as balas que ganhávamos após a rezinha! Era bom, brincávamos, rezávamos e crescíamos juntos.
Chegado o dia esperado, esse não passava. A missa não acaba para então ir dormir e esperar... ficar acordada era o que eu queria, mas o sono me roubava e acabava adormecendo na espera do presente!
No meu coração, eu sabia que não existia Papai Noel nenhum e que o presente estava escondido no fundo do guarda-roupa ou na casa da vizinha, porém, para que estragar a alegria dos meus pais em cultivar em mim essa inocência?
Pela manhã, quão grande não era a alegria ao desembrulhar com cuidado o presente, sim, com cuidado, pois o papel poderia ser aproveitado, nada naquele tempo era desperdiçado, e ver ali meu desejo satisfeito, mesmo que não fosse aquela boneca cara da Estrela que eu havia pedido, mas a alegria era do presente embaixo da árvore e detalhe, junto ao chinelo ali deixado!
Hoje temos tudo pronto! Árvores lindas nas lojas, todavia, nada comparado ao prazer de ir ao pasto com meu pai buscar o galho. Bolas inquebráveis de todos os modelos e tamanhos, laços, luzes, bonecos de neve , papais noéis brancos, verdes grandes pequenos, a ceia pronta a delivery, só encomendar e marcar a hora pra chegar.
A missa do galo é mais cedo, os presentes pagos em dez, doze vezes no cartão, até o próximo Natal, contudo, sinto que a magia não está tanto no ar, não sinto cheiro de tutu com ovo ou de macarronada de macarrão grosso, não sinto gosto doce de bala depois da noveninha, nem sinto inocência na espera pelo bom velhinho!
Ou eu cresci demais ou a doce magia está realmente ficando para trás! Só não podemos esquecer de quem realmente é o centro dessa festa! A Ele toda honra e louvor a Ti meu Jesus e Salvador!!! Um feliz Natal a todos!!!!
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