A pandemia já matou 17 mil estabelecimentos de comércio e serviços na capital. Pelas estimativas da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), cerca de 10 mil lojas podem ter sido fechadas e, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/MG), 7.000 bares e restaurantes deixaram de funcionar. A segunda onda da Covid tende a ser mais avassaladora.
“Se a gente fizer uma analogia, durante a primeira onda, a mortalidade era maior para pacientes mais velhos ou com alguma comorbidade. Agora, a doença já está vitimando pessoas mais novas e saudáveis. É o mesmo com as empresas. Antes, só as mais frágeis estavam fechando. Agora, o vírus já ameaça até as com a saúde financeira mais estruturada”, afirma o gerente da unidade de inteligência empresarial do Sebrae-MG, Felipe Brandão.
E o oxigênio já está acabando para uma parcela grande dos negócios. “Em 11 meses, as academias operaram por quatro. Nesse período, continuamos pagando contas e ficamos zerados. Comecei 2020 com seis academias; agora, tenho duas. Vendi meu carro particular, fiquei só com o do trabalho, abri mão de poupança. Enfim, já fiz de tudo”, conta o empresário Marco Antonio Vecchia.
Além de R$ 90 mil pelo Pronampe, ele pegou vários outros empréstimos. Uma dívida que já se estende pelos próximos 12 anos. Todo o esforço agora é concentrado em manter as academias que sobraram e o emprego dos atuais 38 funcionários. “Eu não tenho dinheiro para demitir, ainda mais que suspendi o contrato de trabalho deles por um período; caso eu os demita, vou ter que pagar multa”, explica. É que o governo federal abriu a possibilidade de rescisão temporária dos contratos para ajudar os empresários na pandemia com a garantia de estabilidade proporcional ao período de suspensão.
A regra, que salvou muitos negócios no início da pandemia, agora virou um fator limitante. Pesquisa da Abrasel/MG mostra que, só no setor, 84% dos empresários dizem estar em risco de fechamentocaso não ocorra uma flexibilização da medida.
Com o vencimento dos empréstimos chegando, a situação tende a piorar. “O empresário também tem família, come, precisa se vestir, os filhos precisam estudar. Os negócios correm risco de fechar, mas as dívidas vão ficar”, afirma Matheus Daniel, presidente da Abrasel/MG e dono de restaurante.
Dono de um bar em BH há 13 anos, Fabrício Lana se sente sufocado. “Acho que a gente precisa de espaço para respirar. É preciso ter uma segurança sobre o funcionamento dos negócios. Um dia, pode vender bebida; no outro, não. Um dia, abro em um horário; depois, sou autorizado a abrir em outro. Minha meta é sobreviver”, conta o empresário, que não está faturando nem metade em relação a antes.
Governo não cogita ampliar prazos de programa de ajuda
Enquanto os empresários aguardam uma solução, o governo não cogita, pelo menos por enquanto, ampliar os prazos de pagamento do Pronampe. De um lado, o Ministério da Economia credita a responsabilidade de alongar a carência aos bancos. De outro, as instituições financeiras dizem que mudanças nas regras do programa são uma responsabilidade governamental.
Em nota, o Ministério da Economia disse que “o contrato de vencimento da carência é estabelecido por meio das instituições financeiras. Nesse caso, a decisão de ampliação ou não do prazo para início do pagamento deve ser feita pela própria instituição financeira na qual o empresário solicitou o crédito”. E completa: “Se as empresas não realizarem o pagamento do crédito retirado, as instituições financeiras poderão cobrar por meio do processo normal de cobrança”, afirma a pasta. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) diz, também em nota, que os bancos não receberam nenhum pedido de ampliação de carência.
A situação preocupa. “Se não houver nenhuma medida do governo para postergar o pagamento do Pronampe, as empresas que pegaram esse financiamento terão que resolver de forma individual, tentando renegociar prazos e linhas com carências estendidas. Mas é preciso lembrar que não adianta só carência, pois uma hora terá que pagar”, afirma o gerente da Unidade de Articulação para o Desenvolvimento Econômico do Sebrae Minas, Alessandro Chaves
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