A preponderância materna, em Francisco Fernandes foi nele vigorosa. Dela vieram o amor à verdade, a educação religiosa e a bondade.
A educação religiosa que recebeu de sua mãe lhe valeu, como anteparo nas dificuldades encontradas e que foram inúmeras, quando se fazia imperativa a prudência: virtude correlata de excepcional valor.
D.Galdina recebia do filho ditoso, a promessa de minorar-lhe o peso do trabalho, em futuro próximo, dando-lhe conforto.
D.Galdina era ótima cozinheira e doceira de aprimorada técnica, porém pouca oportunidade se lhe apresentava para servir aos filhos.
Mesmo assim, ainda, ajudava na despesa da casa.
Francisco Fernandes foi marceneiro bancário. Começou como tipógrafo. Início de sua profissão. O que se sabe, é que os indivíduos dotados de maior inteligência procurem situações independentes dos óbices encontrados.
Enquanto Fernandes vivia em Arcos, preso à tradição e fora dos grandes centros, tinha, no espírito, a força de Orfeu... Viajara em busca de conhecimentos. Sua ânsia de saber fez da sua vida nômade, a apoteose de zíngaro.
A idéia de publicar um jornal em Arcos já estava amadurecida por Fernandes, moço ainda, cheio de aspirações ardente fundou um jornalzinho à 3 de março de 1915 intitulado “O implicante”. Era manuscrito, medindo 18x14 cm. Durou três meses. Nos conta que foi nessa ocasião que teve mais trabalho por que trabalhava até alta madrugada, para conseguir a confecção de uns vinte exemplares que distribuía, no dia seguinte em sua terra. Que força de ânimo de rapaz pobre, com imensas dificuldades com que lutava, imprimindo o semanário com tipos de borracha.
O Implicante teve vida efêmera. Depois, comprou uma tipografia de borracha e aumentou o formato do jornal a que deu o nome de “Imparcial”. O jovem tipógrafo não desanimou, no ano seguinte adquiriu três máquinas velhas e um pouco de tipos, e imprimia, então, o jornal de duas em duas páginas e voltava a público mais feliz, com o “Eco” que lhe valeu notoriedade. A opinião pública era desfavorável, o que alias não o desanimou. Assim viveu por dois anos, o jornal de Francisco Fernandes.
Nessa árdua tarefa, contou com a decidida colaboração de amigos – Joaquim Vieira de Faria, José Caetano Sobrinho e muitos outros.
Estava o jornalista com dezessete anos de idade, sabia da luta que o esperava e se dispôs a todo sacrifício.
São do mesmo Francisco Fernandes estas palavras no jornal apresentava... “nossa força de vontade como poderosa alavanca impulsionando-nos – não para o alvo do dinheiro, mas apontando-nos um horizonte longínquo onde está escrito com letras coruscantes a perpetuação do nosso nome nos anais desta terra”.
Sobre política este era seu pensamento. Para ele, esse mal era visto no quadro típico da formação brasileira onde a política padecia de evidente reforma nos seus quadros. Essa manifestação da idéia de jornalista saiu numa crônica publicada no jornalzinho “O Florete”, do Redator gerente José Vaz Sobrinho, e ainda de Nelson Trindade, companheiros inseparáveis do revisor Francisco Fernandes.
Nessas ocasiões benditas, é muito comum ver-se um chefe, ordinariamente, fidalgo, levar democraticamente a mão poderosa à aba do RAMENZONI cinzento claro, e cumprimentar, entre risonho e paternal, a um leitor medíocre.
E é por essas épocas de uma igualdade ficticiamente compensadora que eu me ponho a recordar, com saudade, de um preto velho da minha terra, o qual costumava cantarolar uns versos estropiados e desconexos, ignorando, talvez que na sua lereia de negro-mina, estava proclamando a maior verdade axiomática de que hei tido notícia:
“Rico conhece o pobre
casião das ileição.
Topa o’ o o pobre na rua,
diz adeus, pega na mão...
- S’ocê me dé seu voto,
te dô dinheiro pra gastá
dô terra pra morá...
Dispois das ileição cabada:
- “Disacupa meu lugá” J.Só
O pseudônimo do jornalista era J. Só.
Leopoldo Corrêa – Da Academia Municipalista de letras de Minas Gerais.
Do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Da Academia de Letras de S. João d’El Rei.
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