Mais de um século dedicado à educação, ao conhecimento e à cultura. Faleceu nesse domingo (3), aos 101 anos, a professora formiguense, Ângela Tonelli Vaz Leão, docente emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da PUC Minas.
Ela foi a primeira diretora da Faculdade de Letras (1969-1973). Dona Ângela, como era chamada pelos alunos e admiradores do seu trabalho, teve uma trajetória profissional dedicada à sala de aula, participação em encontros de literatura e publicação de livros. A família ainda não divulgou informações sobre o velório e sepultamento.
Em entrevista ao Estado de Minas em 15 de novembro de 2022, pela passagem do Dia do Professor, duas semanas após completar seu centenário, ela disse assim sobre a arte de viver: “Tudo é trabalho. O que gosto de fazer eu faço”.
Graduada em letras, nos anos 1940, na UFMG, onde muitas décadas depois se tornaria professora emérita, dona Ângela explicou que cada passo seu teve a escrita como guia. “Sempre gostei de ler e tenho meus autores preferidos: Machado de Assis, pelo estilo e competência. Em matéria linguística, não existe outro no Brasil e em Portugal. Sou fã e sempre retorno às páginas de ‘Dom Casmurro’. Já entre os portugueses, está Luís de Camões e seu ‘Os Lusíadas'”.
Durante a entrevista, a professora mostrou a última edição do seu livro “Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio: Aspectos culturais e literários”. Olhou com atenção a obra, sobre a qual se tornou especialista, e elogiou o texto escrito no século 13, em galego-português.
Família
Viúva havia mais de 30 anos de Wilson Coelho Leão, a professora Ângela tinha cinco filhos (Athos, Mário, as gêmeas Beatriz e Regina e Ângela Maria), 10 netos e 11 bisnetos.
Reconhecimento
Pelo seu trabalho, Ângela Vaz Leão recebeu várias homenagens: Prêmio de Melhor Monografia de Conclusão do Curso Normal das Escolas Oficiais de Minas Gerais (1949) à Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedida pela Presidência da República (1998), passando pelo Prêmio Júlio Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras (1962), em reconhecimento ao livro “O período hipotético iniciado por se”; pelo Prêmio Cidade de Belo Horizonte, pelo livro “História de palavras” (1961). Recebeu também o Prêmio Arduíno Bolivar (1949) como a melhor entre os estudantes que, naquele ano, concluíram o curso de letras na UFMG.
A produção acadêmica compreende de estudos dedicados às poéticas de Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta Lisboa e Guimarães Rosa aos que tratam da língua portuguesa e das línguas românicas, com destaque para a poesia galego-portuguesa de Afonso X. Ensaio, de sua autoria, sobre “Cadeira de balanço”, de Drummond, passou a figurar como prefácio a essa obra, a partir de sua segunda edição.
Como docente da UFMG, ocupou as cátedras de língua portuguesa e de filologia românica e exerceu os cargos de chefe do Departamento de Letras da antiga Faculdade de Filosofia, e, depois da reforma de 1968, o de primeira diretora da Faculdade de Letras (Fale). De acordo com a universidade, toda a estruturação da Fale é fruto de sua gestão, que envolveu atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como o início da pós-graduação.
Na PUC-Minas, foi responsável pela elaboração dos projetos não só do Prepes — Programa de Pós-Graduação lato sensu—, concebido com a finalidade de capacitar professores de escolas e faculdades do interior do Brasil e da América Latina, mas também do curso de pós-graduação em letras nos níveis de mestrado e doutorado.
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