Recentemente, Geraldo Ló produziu um texto sobre o ponto mais alto de Arcos, intitulado “Morro do Quenta Sol – a maior altitude de Arcos”. Motivados por suas informações, buscamos mais evidências e detalhes sobre este local fascinante, que na verdade é um sítio arqueológico pouco mencionado e consequentemente subexplorado turisticamente.
De acordo com o Museu Arqueológico do Carste do São Francisco (MAC/PAINS), "o sítio arqueológico está inserido em uma grande formação de rocha calcária situada na margem direita do rio São Miguel. Conhecida como Morro do Quenta Sol, essa formação atinge 866 metros de altitude, sendo um dos marcos paisagísticos mais importantes do Carste do Alto São Francisco e delimitando o limite norte dessa região.
O Morro do Quenta Sol cobre uma área superior a 350 hectares, e incluindo seu entorno imediato, especialmente a várzea do rio São Miguel, a área total supera 500 hectares. Destaca-se no relevo regional por sua extensão e volume, apresentando um maciço rochoso que ainda está preservado das atividades de mineração e desmatamento. A cobertura vegetal é densa e rica, com árvores imensas que aparentam ser muito antigas, indicando um crescimento e desenvolvimento secular.
Além da sua beleza natural, o Morro do Quenta Sol guarda um rico patrimônio espeleológico. A área é composta por numerosas cavidades naturais e feições típicas do carste, como grutas, abrigos rochosos, lapiás, dolinas e corredores de diáclase. Diversos sítios arqueológicos foram identificados na região, registrando ocupações de grupos indígenas caçadores-coletores e agricultores ceramistas.
Embora nunca tenham sido feitas datações radiocarbônicas na área, estima-se, com base em medições feitas em outros locais do Carste regional, que o patrimônio arqueológico do Morro do Quenta Sol possa corresponder a uma história indígena com cerca de 9 milênios.
Um dos sítios arqueológicos mais destacados é o Antônio Vitalino, uma gruta com uma ampla zona abrigada de aproximadamente 350 m². A paisagem sob o abrigo rochoso é marcada por formações de concreções carbonáticas, escorrimentos e estalactites. É nesta zona abrigada que se encontra o registro arqueológico, incluindo pinturas rupestres, fragmentos de cerâmica e material lítico.
As pinturas rupestres são o destaque deste sítio arqueológico. Em toda a área do Carste do Alto São Francisco, apenas uma dezena de sítios com arte rupestre indígena são conhecidos, sendo dois deles no Morro do Quenta Sol. O principal é o sítio Antônio Vitalino, com cerca de 50 figurações pintadas em monocromia vermelha, representando quadrúpedes, cervídeos, tatus e formas geométricas, evocando a Tradição Planalto, vinculada a ocupações de grupos indígenas caçadores-coletores do período Arcaico, entre 8.000 e 4.000 anos atrás."
A preservação do Morro do Quenta Sol e da região do Carste do Rio São Francisco é vital para manter a biodiversidade local e os recursos hídricos, além de proteger nossa história. A região enfrenta desafios de preservação ambiental devido à mineração e outras atividades que ameaçam o frágil ecossistema cárstico. Esforços de conservação são essenciais para garantir que essas áreas, com suas belezas naturais e recursos únicos, sejam preservadas para as futuras gerações.
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